FELIZ ANIVERSÁRIO

Renato Farias

Renato Farias

“Ontem foi meu aniversário. O segundo no período da pandemia.”

Lembro que, no aniversário do ano passado, imaginávamos já estar de volta à “normalidade” este ano. Planejávamos festas, viagens, reencontros. Abraços apertados e beijos demorados, como costumávamos trocar em dias de festa.

Mas cá estamos novamente. No máximo um jantar em casa, com o casal mais próximo de amigos.

“E imaginando como será o aniversário do ano que vem...”

Impossível não refletir sobre o que significa mais um ano de vida nesses tempos em que a morte está cada dia mais banalizada. E, muitas vezes, até desrespeitada.

Sempre gostei de fazer aniversário. Acordo decidido a acreditar piamente em tudo o que vou ouvir durante o dia. Elogios, desejos, votos de saúde, paz e amor. Cada parabéns que ouço, ouço de verdade, exercitando uma escuta generosa comigo mesmo nesse dia.

No dia a dia, pode ser um pouco mais difícil ouvir elogios, palavras de amor ou desejos de felicidade.

No aniversário, deixo tudo fluir e comemoro estar vivo e cercado por pessoas em que acredito quando dizem que querem me ver saudável e feliz.

Mas hoje é o dia seguinte. E sinto que, para honrar tudo o que vivi e ouvi ontem, devo, em primeiro lugar, agradecer.

Agradecer à vida, ao meu núcleo familiar, aos amigos. Agradecer à saúde. E, em segundo, corajosamente,  pensar em como me tornar uma pessoa melhor. 

Aceitar que, como todo mundo, sou feito de luz e sombra e, portanto, devo buscar iluminar as próprias sombras. Não para que desapareçam, mas para não me tornar refém delas.

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Na teoria, pode parecer simples, mas, na prática, é preciso estar realmente disposto. Não creio que haja nenhuma receita de como fazer isso. Ao longo desses 54 anos, descobri alguns caminhos que, para mim, acredito que funcionam: auto conhecimento, busca da identidade e da vocação, respeito à alteridade, tentativa de não julgar o outro, exercício da empatia. Mas aprendi, também, que cada trajetória é individual e que cada busca tem o seu tempo e o seu processo de buscar.

Portanto, nesse dia em que acordo “um ano mais velho” reconheço meus privilégios, penso carinhosamente em cada amigo que ontem se mobilizou para me desejar um novo ciclo, e mergulho uma vez mais na certeza de que, se não posso mudar o macro mundo como desejaria, posso ser o melhor dos agentes transformadores no micro mundo em que vivo.

É nisso que pretendo me concentrar nos próximos 365 dias: descobrir novas maneiras de criar mundos de escuta, acolhimento, beleza e delicadeza para mim e para os que me cercam.

E desejar estar mais saudável ano que vem, afinal, a palavra aniversário é de origem latina, e é a junção de duas palavras annus (ano) e vertere (voltar). Significa aquilo que volta todos os anos. Até que, um dia, não volta mais...

 Renato Farias

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