George Floyd, racismo e democracia

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George Floyd foi morto em 25 de Maio de 2020 por um policial branco, o que podemos dizer a esse respeito?

Donald Trump errou feio, o então presidente dos Estados Unidos da América afirmou que era um caso isolado. Qual o histórico desse policial?

Derek Chauvin trabalhou 19 anos como policial, 18 queixas formais e duas cartas de reprimenda. A maioria foi arquivada. Vale lembrar que em 2008, Chauvin atirou contra Ira Latrell Toles, um homem negro. Toles não morreu e disse que foi agredido e que a alegação do policial de que ele teria tentado desarmá-lo é falsa, o processo deu razão a Chauvin. Tudo indica que o que mudou nas ações de Chauvin em 19 anos foram mais as câmeras dos celulares do que qualquer outra coisa.

George Floyd não foi o primeiro homem negro morto. Abuso de força policial contra pessoas negras tem uma longa história nas sociedades multirraciais formadas pela colonização.

O filósofo e psiquiatra Frantz Fanon argumenta com muita qualificação a esse respeito, a violência é a língua que o colonizador branco falava durante o processo de colonização, os alvos foram os povos originários da América e as pessoas que chegavam do continente africano e suas descendentes. Em todo continente americano, a colonização foi uma história de estupros, assassinatos, genocídio de povos tradicionais, escravização e um conjunto de dispositivos de crueldade institucionais que fizeram das pessoas negras as principais vítimas.

Célia Azevedo Marinho escreveu o livro Onda negra, medo branco, ela fala de um imaginário das pessoas brancas que escravizavam, elas tinha um certo pavor de serem surpreendidas por levantes. Nos Estados Unidos da América, o fim da escravidão trouxe um truque jurídico: a 13ª emenda, pessoas presas poderiam ser submetidas a trabalho forçado e sem remuneração. O detalhe é que a população negra estadunidense é cerca 13% do total de habitantes; mas, afro-americanos ocupam 40% das vagas no sistema penitenciário. Existe uma explícita política institucional de encarceramento de pessoas negras, nas décadas de 1960 e 1970 não eram raras as prisões por motivos de baixo potencial ofensivo, tais como multas de trânsito atrasadas. O objetivo era lotar as cadeias de gente negra para que trabalhassem como escravizadas.

A morte de Floyd não é um caso isolado. 

Além dele, outros homens negros já gritaram que não conseguiam respirar, “I Can’t breath” - disse Eric Garner em 2014. Em 1992, policiais brancos foram absolvidos depois de um julgamento por espancamento de Ronald King. Na época, Los Angeles pegou fogo.  Uma semana depois da morte de George Floyd muitas cidades estadunidenses pegavam fogo. Fanon argumentou com afinco para registrar a seguinte tese: o poder opressor só entende a língua da violência. Somente um regime genuinamente democrático pode dialogar por uma língua que não seja a violência.  

Pois bem, é preciso dizer algo ainda mais qualificado: sem combater o racismo não chegaremos a uma sociedade democrática.

Os dias seguidos de protestos contra a morte de Floyd, a campanha “Black Lives Matter” (Vidas negras importam), assim como os protestos dia 02 de Junho de 2020 em Paris em memória da morte de Adama Traoré, assassinado em 19 de Julho de 2016 depois de ser violentamente agredido durante sua prisão.  Vamos ao ponto, de modo sucinto: o trabalho escravizado foi a base da exploração colonial que enriqueceu os países europeus e empobreceu o continente africano.

O filósofo Achille Mbembe ajuda a pensar a respeito com a “Crítica da razão negra”, a modernidade ocidental é um fenômeno inseparável do racismo. Foi preciso definir uma escala de humanidade em que os brancos estavam no topo, os negros na base. Esse projeto não acabou. A morte de pessoas negras faz parte das práticas. Se tomarmos, a democracia como um valor político desejável, não entrarei aqui no mérito da questão. Apenas, peço que você que lê este texto, tome como um axioma a seguinte ideia: “a democracia é o regime de governo mais adequado para garantir os direitos individuais, assim como dos vários grupos e segmentos, combatendo todas as formas de opressão e garantindo a dignidade e os direitos fundamentais de todas pessoas”.

Dito isso, precisamos nos juntar aos protestos em nome de George Floyd, Adama Traroé e tantos outros homens, mulheres, jovens e crianças que foram (ou estão sendo) mortos de modo direto ou indireto. Em primeiro lugar, nós precisamos protestar pacificamente. Em segundo lugar, a democracia passa invariavelmente pelo combate ao racismo. Portanto, faço um convite: escreva hoje “Vida negras importam” em suas redes sociais. Hoje é mais um dia para combater o racismo e, por tabela, defender a democracia.

Apenas, não se engane: combater o racismo vem antes. 

Renato Noguera

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