Ideologia de quem?

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Mais uma vez a educação está em pauta.

Mais uma vez o feminismo está em pauta.

Mais uma vez a liberdade e a dignidade das nossas meninas está em pauta.

Um grupo de meninas se organizou em um colégio do Rio de Janeiro após várias denúncias de assédio sexual de um professor ser completamente ignorado e acobertado pela direção da instituição.

As meninas foram vítimas de assédio sexual, violências que vieram de forma verbal, com conversas indesejáveis, convites absurdos e “piadas” de cunho sexual, e também de forma física, através de contato sem consentimento.

Elas fizeram cartilhas, elas levaram as denúncias ao Ministério Público, elas lutaram por sua liberdade de estudar e de existir – o que diga-se de passagem, não era para ser a preocupação delas, uma vez que esse dever é responsabilidade daqueles que estão do lado de lá da instituição.

Não foi dado encaminhamento às violências relatadas, as vítimas não foram acolhidas e escutadas ativamente e de forma empática, não houve atendimento multidisciplinar... ou seja... tudo errado.

Esse movimento, no entanto, mostrou a força que essas meninas unidas têm!

Atualmente existe um processo judicial em andamento contra o colégio – que se defende garantindo que essa situação gerou uma mudança de política para a proteção das crianças e adolescentes e prevenção de violência sexual e de gênero.

Acontece que isso não gerou manchetes... a notícia é outra: um grupo de pais, deste mesmo colégio, está questionando a “doutrinação feminista e política das alunas”.

É isso mesmo... a preocupação não é com o assédio sexual que diversas meninas sofreram... mas com a sua organização e união para lutar contra esse mesmo assédio.

Primeiro: eles não acreditam que essas meninas tenham capacidade de se unir e se organizar por si só, sem que haja uma suposta “doutrinação” que venha de cima – afinal, meninas são frágeis, vulneráveis e completamente passivas.

Segundo: eles enxergam essa organização e união mais perigosa e nociva do que o assédio praticado pelo professor que dá aula às suas filhas.

E mais uma vez a gente conversa aqui sobre a educação e a necessidade de compromisso com as pautas de equidade e combate e prevenção a toda e qualquer forma de violência.

Esse caso me lembra a história do Lucas, massacrado pelos pais de alunos de sua escola por ser uma criança que queria apenas estudar sobre diversidade.

Contrariando aquilo que foi alegado na própria defesa no âmbito do processo judicial, o colégio, atendendo a essa absurda demanda, chegou a elaborar um questionário destinado aos pais, com questões como:

“O que acha da ideologia de gênero?"; "Acha que o feminismo está de acordo com a fé católica?".

Ideologia de quem?

Mais uma vez estamos diante de uma radical direita, conservadora, machista, racista e lgbtfóbica agindo contra as vidas e dignidade dessas meninas.

Eu me questiono... o que está acontecendo?

Mais uma vez as vítimas são culpabilizadas ou desacreditadas de alguma forma.

Mais uma vez o comportamento de quem reage é questionado, tendo como base o comportamento de quem age.

Mais uma vez, aqueles que deveriam garantir a proteção, se eximem de sua responsabilidade - estes sim, se envolvendo em suas ideologias que violam, que segregam, que aniquilam.

 Fernanda Darcie

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