O discurso pró-vida que violenta mulheres.

O livro Conto da Aia de Margaret Atwood  trata da República de Gilead, que é totalitária e teocrática. Nesse lugar as mulheres são controladas e violentadas de diversas maneiras, as aias, por exemplo, são aquelas que só “vivem” para a reprodução, elas geram crianças para casais da alta classe que não conseguem ter filhos.

As não -mulheres, por sua vez, são as que não podem engravidar, as lésbicas e feministas e seus destinos é a escravisão em colônias. Apesar de ser considerado um romance distópico, é um retrato de como discursos totalitários e conservadores de governos controlam e violentam as mulheres. 

Nas últimas semanas deste mês as mulheres perderam direitos nos Estados Unidos e assistiram o Estado e a mídia brasileira exporem duas  vítimas de estupro sem nenhum cuidado a julgamentos.

Nos Estados Unidos o  direito de abortar foi concedido na década de 1970, porém com o crescente conservadorismo a Suprema Corte derrubou no dia 24 deste mês a decisão que garantia às mulheres estadunidenses o direito de abortar, a corte é composta por uma maioria de conservadores resultante do ex-presidente Donald Trump.

Com isso os estados americanos terão autonomia para decidirem se vão permitir o procedimento ou não nos seus territórios.

Aqui no Brasil uma menina de onze anos vítima de estupro teve seu direito negado, uma vez que é lei que mulheres vítimas de estupro ou que têm a vida em risco por causa da gestação podem realizar o procedimento.

A juíza Joana Ribeiro negou à criança o seu direito e a enviou para um abrigo, que só foi sair alguns dias depois. Para realizar o procedimento e ter seus direitos garantidos, essa menina foi exposta e violentada de diferentes formas. Outro caso de abuso sexual foi o da atriz Klara Castanho, de vinte um anos, após ser violentada sexualmente a atriz tomou medidas que pudessem garantir um pouco de estabilidade emocional.

Ela ficou grávida do seu abusador e só descobriu no fim da gravidez, sem condições psicológicas e emocionais de criar e cuidar da criança a colocou para a adoção, esse fato foi vazado nas redes sociais e em programas de fofoca, colocando-a em evidência e suscetível a julgamentos morais.

O sigilo não foi respeitado, nem pelos profissionais de saúde como pelos jornalistas. A adoção legal e já encaminhada se tornou pública e uma mulher acusada.

O que os três casos demonstram é como o conservadorismo do Estado arranca das mulheres seus direitos, sujeitando-as cada vez mais a violências diversas. No entanto, não podemos esquecer que a norma de reprodução como um destino das mulheres é imposto pelo patriarcado, para os que defendem discursos de fanatismo e uma certa moralidade, não importa se os bebês, se as gravidez são resultantes de uma violência feita por um abusador.

O que fica nítido é que o que importa não é a vida, é o controle dos corpos das mulheres.

Margaret Atwood não escreveu uma distopia ela escreveu o hoje, as nossas aias e não mulheres, não são as mesmas do romance, mas elas existem, uma vez que a obrigatoriedade da gestação é um discurso ético de conduta das mulheres.

Maiara Amaral

Instagram @mai_diana_

Siga no instagram @coletivo_indra