O QUE O ASSASSINATO DO EX-PREMIER DO JAPÃO NOS REVELA SOBRE O MUNDO EM QUE VIVEMOS?
A manchete parece início de romance policial ou de mistério, mas aconteceu há pouco no Japão, na noite da quinta passada no horário do Brasil. O premier era líder do partido democrático liberal, e considerado um político conservador e populista, foi baleado no meio do seu discurso público.
O atirador foi identificado e alegou que estava insatisfeito com o governo Abe, que por sua vez estava no comício como apoio ao seu candidato que disputa as eleições nesse domingo dia 10.
Uma das monarquias parlamentaristas, o Japão foi governado por quatro mandatos, pelo ex-Premier (cargo semelhante ao primeiro ministro) Shinzo Abe, que renunciou ao cargo antes do fim de sua vigência em 2022. Além da renúncia desse último mandato, Abe já havia renunciado quando ocupou o cargo entre 2006 e 2007 e em ambas as situações a renúncia foi por motivo de doença.
Considerado um dos líderes mais influentes do Japão do pós-guerra, Abe se envolveu novamente em escândalos exatamente quando o Japão estava fragilizado devido a catástrofe nuclear de Fukushima. Seus mandatos foram marcados por escândalos e turbulências políticas, o que certamente deve ter abalado sua popularidade.
De fato, motivos não faltam para odiar os governantes de nossos países. Mas o que esse assassinato nos revela sobre o mundo em que vivemos?
Parece que nos últimos tempos vemos mais episódios de ódio contra os governantes. O ato de brutalidade nas vésperas da eleição japonesa é um fenômeno similar ao que houve na campanha de pré-lançamento do PT no Rio de Janeiro, e óbvio, Lula, o candidato à presidência, estava presente.
O ato tranquilamente poderia ser chamado de terrorista nos países do norte global, mas as manchetes que noticiam atentados como esses se furtam de nomeá-los por terrorista , mas isso é um debate que dá pano pra manga.
Por ora, vamos nos fixar no que esses atos significam na vida política. Cidadãos em todo o mundo estão cada vez mais mostrando que votar não é o suficiente, que participar do governo também se faz necessário. É como se os fundamentos da democracia representativa estivessem sendo colocadas em xeque por atos que tem por objetivo por fim a vida dos governantes.
Acredito que essa tem sido uma das grandes mensagens que o século XX transmitiu ao século XXI. Nossos representantes decidem sobre coisas que nos afetam diretamente e ao mesmo tempo não há espaços em que nós, povo ou cidadãos possamos participar ativamente das decisões, deliberar sobre questões que nos tocam.
Não é apenas o Estado que precisa ser reformado, mas também as instâncias participativas e a própria democracia.
Ah...E uma curiosidade é que Shinzo Abe foi o Mario Bros, personagem de videogame da Nintendo durante a apresentação da mudança de sede das Olimpíadas do Rio de Janeiro para Tóquio em 2016. E é exatamente essa foto que abre a discussão desse tema trágico e que nos faz refletir sobre a vida política.
Marina Rute Pacheco
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