QUANDO A ELITE FAZ PARTE DO ESPETÁCULO MIDIÁTICO

Imagem : HollywoodForever.tv, Yasmin e Bira, os pares romaânticos da novela de Corpo e Alma

Após sair de uma intensa imersão sobre o crime real ocorrido há mais de 20 anos pela #mulherdacasaabandonada, condenada por ter submetido sua empregada doméstica às condições análogas à escravidão, acabamos de assistir a nova série documental sobre um dos maiores crimes relacionados à televisão brasileira.

Pacto Brutal, disponível na HBO Max, conta sobre o trágico fim de Daniella Perez, atriz principal da novela de Corpo e Alma, a novela do horário nobre da Rede Globo na época.

Em 1992, época que ocorreu o assassinato da atriz por um ator que contracenava com a mesma, era a televisão e as novelas um dos meios de produzir opinião de massa. As novelas (re)produziam a realidade social, demonstrando como vivia a sociedade brasileira como também criando tendências.

Imagina o que acontece quando a atriz que estava mais se destacando na trama da maior telenovela da época é assassinada pelo seu colega de trabalho, que era o seu par romântico na trama. Uma comoção pública que conseguiu ofuscar a renúncia do então presidente do Brasil, Fernando Collor.

O caso foi assunto de jornais, telejornais, revistas, eram diversas opiniões e versões sobre o que realmente teria acontecido. Houve uma mistura da ficção com a realidade, fotos do casal da novela relacionado ao que havia acontecido, a vida fora do estúdio como uma extensão da novela.

Se por um lado esse caso mostra a espetacularização, por outro também serviu para exemplificar como as mídias ao cobrirem um crime faz com que haja pressão política sobre instituições de justiça e segurança.

Gloria Perez, mãe da Daniella e a escritora da novela Corpo e Alma, conseguiu juntar 1,3 milhões de assinatura para que incluísse o homicídio qualificado na Lei dos Crimes Hediondos e conseguir assim justiça pela sua filha. Justiça essa que ela luta até hoje, para limpar a moral da sua filha e contar o que realmente aconteceu, que é a proposta da série.

Então, percebemos que desde 1992 a mídia é um meio presente no caso Daniella, e, sim, somos parte de uma sociedade muito influenciada pelas mídias. Se nos anos 1992, quando o assassinato de Daniela Perez ocorreu a sociabilidade familiar orbitava em torno dos televisores, atualmente nossas relações são mediadas e intermediadas pelas redes sociais.

Imagem : Diário 24horas. A mulher da casa abandonada

Hoje vemos os impactos do podcast no mundo real: escrachos, criação da própria casa abandonada no the sims, ida à porta da casa para fazer dancinhas de tik tok etc... A mulher da casa abandonada também demonstra como as mídias podem servir como meio de denúncia social, uma vez que o caso é sobre uma mulher da elite brasileira e que cometeu crime nos Estados Unidos e não foi punida pelo que fez.

Por outro lado o próprio podcast como a população acompanha um caso com um certo ar de um suspense de história de ficção e as pessoas reagem de diversas maneiras, com críticas, com visitas aquela casa que se tornou algo “místico”, a perseguição a mulher que usa uma pasta na cara em uma mansão abandonada.

O que percebemos é que a mídia é protagonista na formação de opinião pública quando se trata de assuntos de segurança pública, justiça e que é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que pode conscientizar a população, esta também pode produzir linchamentos, atrapalhar investigações, criar narrações não condizentes com a realidade ou até transformar a realidade em algo cinematográfico.

No entanto não podemos esquecer que os dois casos acima citados são com pessoas de uma determinada elite brasileira e que isso diz como a investigação é feita e como o caso é exposto nas mídias. E aqui deixamos como dica a série, se você ainda não viu, veja, está muito bom e conta de forma profunda nossa relação com as mídias.

Marina Rute Pacheco

Maiara Diana Amaral Pereira

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