Qual a cor do teu negócio?

Luciana Zacarias ( clic da peça "Entrega para Jezebel",que trazia em seu elenco, como destaque, três mulheres trans e negras)

Luciana Zacarias ( clic da peça "Entrega para Jezebel",que trazia em seu elenco, como destaque, três mulheres trans e negras)

Tá bom, eu sei.. essa pergunta soou “tri” capciosa.

Mas calma, calma, eu vou explicar!

Passei por um estabelecimento comercial aqui, na cidade de Porto Alegre, que em sua fachada tinha uma enooorme bandeira LGBTTQI+. Minha curiosidade, aliada a minha “militude”, quase me empurrou pra dentro do local, para ver como era lá, saber quem eram os proprietários e principalmente, os funcionários.

Há uma considerável gama de empresas que estão estendendo a bandeira LGBTTQI+ em suas marcas, mas é curioso observar que o quadro de funcionários é quase sempre destoante dessa realidade. Nota-se um quadro funcional preferencialmente de pessoas cis e brancos, em quase todas essas ocasiões.

Felizmente nesse local todos os “quesitos” foram preenchidos: proprietários e funcionários estavam “dentro da sigla”.

Não pensem que estou sendo segregadora, nem tentando acirrar, “guetizar” (ou seja, criar um gueto), todo e qualquer lugar que se diga “LGBTTQI+ friendly”. Mas é preciso se estar bem atento a quem realmente se preocupa com o bem estar dessa comunidade, e quem quer pura e simplesmente se deliciar do “Pink Money”.

Pink Money, nada mais é que a renda que a população LGBTTQI+ gera em todos os aspectos. Ora, bem se sabe que casais gays consomem mais cultura, entretenimento, vão mais a restaurantes, ambos possuem renda, geralmente sem filhos. Casais lésbicos idem, casais trans idem. É notório o interesse do comércio nessa fatia do bolo com muito recheio.  

O afroempreendedorismo criou a expressão “Black Money”, ou seja, o dinheiro que a população de cor negra, e aqui coloco os fenotipicamente negros ou autodeclarados, gere em sua totalidade. Inclui-se ai eventos culturais, cursos de afroempreendedorismo e o tão farto ramo da beleza, que dia a dia traz novidades em produtos específicos para pele e cabelos da população negra.

A COR DO SEU DINHEIRO IMPORTA SIM…

Ela pode ser rosa, ou preta ( e confesso que não sei se há outras cores de "money", mas certamente há), e é importante posicionar-se com isso. Consumir, gastar e gerar renda com nosso dinheiro é também estar atento a preocupação na sua totalidade. Uma empresa que coloca a bandeira do arco-íris na sua porta, tem sim que estar atenta as legislações, cuidados com pronomes, banheiros, e principalmente a violência e discriminação, tão presente no cotidiano dessa população ,falo aqui da física, verbal e psicológica.

A população negra está cada vez mais atenta e informada sobre seus direitos e deveres, e sabe mais que nunca, o valor do seu suor (literalmente aqui falando num contexto histórico), e portanto deve cobrar sim um posicionamento ”escuro” do empresariado. Funcionários negros, bem pagos (com equidade), com suporte a cursos e cultura geral, fazem sim um enorme diferença.

É louco explicar o óbvio, mas o faço: ou se empregam travestis gays e lésbicas e os fazem ter dignidade, ou não terão, ao menos o meu, dinheiro!!!!!

Ou se empregam negros e negras, por sua capacidade ou se está repetindo a história!!!

SEXUALIDADE E GÊNERO NÃO É OSMÓTICO, SEU PRECONCEITO É.

A ESCRAVIZAÇÃO FOI UMA BARBÁRIE MAS O RACISMO É TÃO CRUEL QUANTO!

DE QUE COR É SUA SORORIDADE: COLORIDA,PRETA OU INCOLOR?

Valéria Barcellos

Instagram @valeriabarcellosoficial

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*LGBTTQIA+- sigla para lésbicas, gays, travestis, transexuais, queer e intersexuais. O + é pra abonar as outras formas de expressão não descritas aqui.