RESPONSABILIDADE E EMPATIA SELETIVA

Imagem : Alexandre Beck

Em tempos de empoderamento da empatia seletiva, como responsabilizar as pessoas?

Se uma boate pega fogo, com centenas de jovens dentro, de quem é a responsabilidade?

Se o combustível e a comida estão caríssimos, aumentando diariamente o número de pessoas que passam fome, de quem é a responsabilidade?

Se o número de simpatizantes do nazismo cresce e não teme mostrar a cara, de quem é a responsabilidade?

Se chuvas torrenciais destroem o centro de Petrópolis, afogando e soterrando centenas de pessoas que não tem, sequer, tempo para escapar, de quem é a responsabilidade?

Se, com a destruição dos direitos trabalhistas, patrões e empresários aumentam ainda mais a violência contra seus empregados, de quem é a responsabilidade?

Se atos violentos contra minorias de poder: mulheres, negros, indígenas, pessoas LGBTQIA+, via de regra, ficam impunes, de quem é a reponsabilidade?

Se o cerrado queimou, as florestas estão tendo destruição recorde e os alimentos estão super envenenados, de quem é a responsabilidade?

Se o negacionismo e as fake news seguem impunes, e ainda ditam o comportamento esdrúxulo de um percentual considerável de pessoas, além de terem causados milhares de mortes evitáveis durante a pandemia, de quem é a responsabilidade?

Se o desfinanciamento do SUS, Sistema Único de Saúde, dificulta a atuação do maior sistema público de saúde do mundo num momento extremo como o que vivemos, de quem é a responsabilidade?

Se as vacinas chegaram com atraso e milhares de pessoas, inclusive crianças, não puderam ser salvas, de quem é a responsabilidade?

Nessas situações acima, pessoas sofreram e seguem sofrendo, morreram e seguem morrendo. E o que intriga é: na busca por responsáveis, por que o sofrimento e morte de algumas pessoas causa mais empatia do que o sofrimento e morte de outras pessoas?

Por que pessoas que lamentam, emocionadas, a dificuldade de alguns empresários em manter seus negócios durante a pandemia, não se sentem devastados com o linchamento do migrante congolês e trabalhador Moïse num quiosque na Barra da Tijuca? Por que, nesse exemplo, o corpo negro dilacerado não produz empatia, enquanto as dificuldades confortáveis de um empresário geralmente branco causam revolta?

É a isso que estou me referindo quando falo de empatia seletiva.

Homens brancos que detém algum poder, ou que se identificam com os poderosos, mesmo não tendo poder algum além do seu machismo cotidiano, tendem a ter empatia seletiva. Só se mobilizam emocionalmente com os que consideram iguais e com seus familiares e amigos próximos. Claro que há, felizmente, muitas exceções.

Mas, em tempos onde quem detém o poder maior o exerce, prioritariamente, para proteger seus filhos e a si próprio da responsabilidade sobre seus atos e, em segunda instância, seguir enriquecendo os empresários que o colocaram e, ainda, o mantém no poder, ficam ainda mais visíveis os diversos graus de empatia seletiva que se distribuem pelo país.

E você? Conhece alguém que tem empatia seletiva?

Renato Farias

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