SiPA/APS: o GPS do amor

Imagem : Pngtree

O objetivo deste breve artigo é compartilhar uma investigação em curso. A partir da experiência do Global Positioning System (GPS) ou Sistema de Posicionamento Global, quero provocar uma inflexão a respeito do que vou chamar de Sistema de Posicionamento Afetivo (SiPA) ou, ainda, Affective Positioning System (APS) se preferirem manter a abreviatura em língua inglesa.

Não é equívoco dizer que a função do GPS é facilitar o nosso percurso, evitar tráfego carregado e nos levar ao nosso destino em menor tempo. O APS teria como função nos levar para um encontro afetivo-sexual bem sucedido.

O GPS nasceu como um projeto militar dos Estados Unidos da América chamado NAVSTAR (Navigation System with Timing and Tanging) que custou cerca de US$ 10 milhões e 35 anos de trabalho. Eu não tenho a menor ideia de quanto tempo vai ser preciso para criarmos o SiPA. O GPS é um sistema que funciona através de informações de satélites na órbita próxima da Terra, trocando informações com dispositivos que usamos para localizar o nosso percurso.

Os satélites cruzam dados e determinam coordenadas geográficas como linhas de latitude (marcada pelas bordas leste e oeste do mapa) e linhas de longitude (marcadas ao longo das bordas sul e norte). A geolocalização precisa ocorre por conta da constelação de satélites, além de modelos de GPS estadunidenses, como o Google Maps e o Waze, existem outros como: o GLONASS (Rússia), Beidou-2 ou Compass (China), Galileo (União Europeia).  

Pois bem, uma forma de fazer o SiPA é a tradicional geopsicologia iorubá. A geopsicologia é uma ciência como objetivo proporcionar autoconhecimento, contribuir para o processo de autointimidade. O que inclui as nossas relações no mundo.

Portanto, nós podemos especular a partir do cálculo dos Odus de nascimento de alguém, poderemos entrecruzar os encontros e estabelecer intempéries da jornada amorosa entre duas pessoas, por exemplo.

De acordo com a cartografia dos afetos iorubá, existem caminhos/destinos que podem ser calculados e cada um corresponde a determinadas atividades/funções ou setores da vida, os odus de nascimento[1].  Em termos de neurociência, nós contamos com uma tecnologia chamada Ressonância Magnética Funcional (RMF), através dessa técnica é possível detectar modificações de fluxo sanguíneo e de oxigenação em determinadas regiões do cérebro, ou seja, podemos checar quando um estímulo produz ativação neuronal. O cérebro é a região mais vascularizada do corpo humano, consome quase ¼ da nossa energia mesmo que seu peso seja de 1,2 kg a 1,5 kg.

O que não representa  nem 10% do peso médio de uma pessoa adulta. Na RMF é possível captar a oxihemoglobina (hemoglobina carregando oxigênio) e a desoxihemoglobina (dHb), isto é, quando a atividade está mais alta ou mais baixa naquela região. Em certa medida, cada área remete a determinados sentimentos. Por exemplo,  alguns estudos[2] demonstraram que, quando uma pessoa sente medo, as suas amígdalas cerebrais ficam mais ativadas.

O neurocientista António Damásio define os sentimentos como sentinelas, nos informam: “o estado da vida no interior do organismo ao qual essa mente pertence.  Além disso, os sentimentos dão a essa mente um incentivo para agir de acordo com o sinal, positivo ou negativo, de suas mensagens”[3].

A falta de contato com as nossas emoções ou nossos sentimentos é nomeada de desconexão afetiva. A recepção contemporânea do pensamento do sistema Odu Ifá de Orunmilá nos leva ao quadro conceitual de tráfego afetivo, habitamos e percorremos as rodovias dos afetos com os nossos “automóveis”.

Nós estamos sempre num percurso afetivo, sejam rotas curtas ou longas, jornadas, maratonas ou caminhadas. A construção do SiPA pode nos ajudar a compreender, tanto os obstáculos do percurso quanto as nossas condições para fazer a rota.

Além de informações sobre “engarrafamentos”, “acidentes” e a respeito de caminhos mais rápidos ou boas paradas no caminho, um restaurante ou um belo parque urbano. SiPA pode nos fornecer indícios do que precisamos fazer durante a revisão do “veículo”. Ora, nós temos energia suficiente para fazer o percurso?

Pois bem, no Brasil o jogo de búzios realizado no Candomblé é uma espécie de SiPA? Ou, justamente o jogo de búzios articulado à análise dos Odus?

Mas, podemos, em termos laicos, produzir uma espécie de dispositivo que cumpra esse papel de auxiliar no caminho? É possível, produzir um tipo de “aparelho” filosófico e/ou de geopsicologia que nos ajude a realizar cálculos sobre nossas rotas afetivas? A geopsicologia de Orunminlá, psicologia corporal, psicanálise e neurociência juntas podem contribuir para elaboração do SiPA?

A minha hipótese é de que podemos fazer esse dispositivo, sim. Mas, estamos dando os primeiros passos...

Renato Noguera

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 [1] OXÓSSI, Diego de. Odus de Nascimento: Desvende sua personalidade com o mapa astral dos Orixás. Rio de Janeiro: Arole Cultural, 2020.

Odus de nascimento são “signos” que ajudam a compreender a personalidade e o temperamento.

[2] https://veja.abril.com.br/ciencia/cientistas-descobrem-a-regiao-do-cerebro-responsavel-por-reagir-ao-medo/#:~:text=As%20duas%20experiências%20mostraram%20que,é%20a%20responsável%20pelo%20medo.

[3] DAMÁSIO, António. Sentir & Saber: origens da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2022, p. 81.