Uma xícara de café
Eu só queria dar um abraço em cada um de vocês.
Vocês que vêm aqui ler, vocês que leem e comentam, vocês que só recebem o link e não abrem, vocês que pensam “ah, depois eu abro” e esquecem pra sempre. Minha linguagem é, antes da escrita, a do abraço. É por isso que eu preferiria me comunicar assim hoje.
Já estamos em outubro desse ano louco, que acabou em março e a gente nem sabe mais o que tá acontecendo. Se tudo voltou ao normal ou não – pra muita gente sim – se ainda é muito perigoso, se fingimos que tá tudo bem pra não deixar ficar tudo mal. Eu não tenho resposta, e tá tudo bem se você não tiver também, ou se tiver alguma diferente da que eu poderia dar. Hoje não é dia pra isso. Eu só queria te dar um abraço e tomar com café com você.
Enquanto eu escrevo tá chovendo lá fora. Dia cinza, nublado, carro correndo na água. Não gosto. Acho que fico sentimental. Por isso eu só queria vir aqui bater um papo com você. Fingir que rola um abraço, uma mesa suja de bar, um café amargo. Nem que fosse um encontro apressado, de passagem na rua, só pra gente sorrir e continuar o caminho. Que tivéssemos um instantezinho fora desse mundo, daqueles que só dá pra se dar conta depois que acaba. Que nós sentíssemos o que é toda a existência quando nós viramos a esquina e o vento nos pega de surpresa tentando nos empurrar para trás. Faz tanto tempo que eu não viro em uma esquina dessas. Desde que o ano acabou. Essas são daquelas coisas que a gente nem se dá conta de que precisa.
Mas viemos até aqui juntos. Vocês não desistiram. Nós não desistimos. Por isso merecemos um abraço.
Tem tanta coisa que poderia ser comentada nesse espaço, eleições chegando, a corrupção que dizem ter acabado, as obras que não deram certo, mas acho que é a hora da gente dar um tempo. Um tempo para que nós possamos nos olharmos e nos escutarmos. Eu só queria que o som desse texto pudesse penetrar em você de alguma forma. Não o som das palavras que estão escritas, mas daquilo que está por trás delas, que é o que eu verdadeiro quero transmitir.
Se você fizer isso, vai perceber que o som do texto é o seu próprio som. Mas, se apenas se apegar ao que está escrito, vai ver que não tem nada aqui. Eu vou contar um segredo: eu parei de escrever pra ir fazer café. Mas quando ele estava ficando pronto, e eu ouvi o barulho engraçado que a cafeteira faz e senti o vapor subindo, eu entendi o que queria dizer aqui. Então, na verdade, o que você está ouvindo quando lê esse texto não é o som da minha voz, mas é o sabor, a temperatura e o aroma do meu café. Aliás, se você olhar pra uma xícara cheia de café, vai perceber que dentro dela tem todo um universo refletido. Mas precisa olhar de forma profunda e atenta. E só então vai conseguir levar toda essa existência pra dentro de si. E vai ouvir a sua voz. Vai sentir o som do texto. O calor da sua vida. E o abraço que eu te dou.
E nós vamos renascer esse dia. Juntos.
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