Paulo Vieira: “Avisa lá que eu vou” e a gnt* vai junto.
Há 4 anos escrevi um texto https://coletivoindra.org/blog-opiniao/heris-como-ns/1/11/2019
com emoção nos dedos e brilho nos olhos falando sobre ele. Hoje, publico mais um texto germinado pelo seu poder de despertar na gente o que há de mais puro e de plantar em cada solo uma esperança na vida.
Avisa lá que Paulo Vieira tá na área, não tem freio e é o cara que nos encanta contando histórias que falam de/para nós.
Vivemos numa sociedade onde todo mundo quer falar, todo mundo quer ter o microfone à disposição e a palavra na ponta da língua. Isso se reflete na overdose de podcasts, de programas de entrevistas, de encontros, de bate-papos. Mas essa polifonia de aspas não é garantia de boas conversas, nem de bons entrevistados. Nem sempre quem fala tem algo a dizer e o que é vendido como uma entrevista pode se revelar um vendaval de assuntos banais, de casos irrelevantes, sem o frescor e a sintonia que um encontro gostoso pede.
Tem histórias que não se sustentam, que não valem a prosa. Falta alguém pra avisar.
A janela de exibição do “AVISA LÁ QUE EU VOU”, novo programa do Paulo Vieira, ser o GNT, um canal a cabo de público nichado e bem definido, trás consigo a simbologia de uma ruptura e uma mudança significativa na relação PRODUTO x AUDIÊNCIA.
A existência de um produto essencialmente popular protagonizado por pessoas anônimas e comuns ocupando a grade do horário nobre de um canal tradicionalmente conhecido por programas de decoração, de culinária e debates contemporâneos é uma prova de que boas histórias são ingredientes importantes na qualidade e no sucesso de um produto.
No episódio de estreia, quando jocosamente nosso anfitrião-andarilho diz que não tem paciência pra entrevistar famosos nos perguntamos: que fama é essa?
O que legitima tal condição? o que dá a relevância da fala, da entrevista, do sofá, do encontro? As grandes entrevistas e não uso o adjetivo pela grandeza da persona ou pela epopéia do feito , estão no que elas tocam, na maneira simples e genuína como o que é contado chega aos nossos sentidos e dá um novo sentido para as coisas, pra quem somos.
Vi muita gente falando que o formato do programa e a maneira como o Paulo conduz a conversa olhando nos olhos, se misturando com os entrevistados, lembra muito o “Brasil Legal”, programa apresentado pela Regina Casé e as reportagens do Maurício Kubrusly no “Me Leva, Brasil”, no auge dos anos 90. Eu concordo! O contato direto e caloroso com o povo, a proximidade dos “causos” e o recorte político, social e cultural que ele revive com destreza e autoralidade remete a um Brasil (muito além do eixo Rio-SP) outrora esquecido e que volta e meia precisamos revisitar para lembrarmos de quem somos e do que temos de melhor.
As aparências norteiam as relações líquidas do nosso presente-superfície cada dia mais filtrado e carente de escuta. E saber escutar é outra grande qualidade do programa. Mais do que simplesmente perguntar, Paulo tem uma capacidade de escuta sensível e compassada no tempo de cada voz, de cada lugar de fala.
Saber entrevistar é também saber ouvir. O que é algo cada vez mais raro. É voz sob voz e a história se perde na sede egóica da vaidade. Vivemos num: todo mundo fala e ninguém se escuta.
Assistir esse e todos os programas apresentados por ele é se enxergar na tela e se ver representado pelo que sua presença simboliza nesse Brasil desmemoriado e esquizofrênico. Ele é um pedaço do todo. Um todo que nos afirma como país diverso, que sabe como ninguém rir das próprias dores e fértil em personagens reais. Discernir o que é realidade num mundo cada vez mais virtual e idealizado é ainda mais difícil diante a magia de uma tela.
Mas a gente sabe quem é de verdade. E como uma das entrevistadas do segundo episódio viu ao analisar a áurea do nosso Simba (quem assistir entenderá) a gente sabe que tudo que ele faz e em todo lugar que ele vai a verdade segue junto e faz ele ir mais longe (sempre com a audiência no seu cangote).
*Acreditem! Faz pouco tempo que descobri que GNT é a abreviação de gente. Hahaha!
Felipe Ferreira
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